Edmundo Carôso - Poeta e Compositor
O que dizer da mulher quando o seu dia chega farto de perfumes? Talvez que esse dia não chega porque nunca se vai - nem se esvai. A mulher e o seu dia estão soldados com tanto fervilhar de substância que cheiram a borboletas. Ela é plena quando amanhece e por isso o seu dia se recusa a partir, mesmo que a noite lhe chame pra jogar colares no horizonte.
O que dizer da mulher quando o seu dia chega farto de perfumes? Talvez que esse dia não chega porque nunca se vai - nem se esvai. A mulher e o seu dia estão soldados com tanto fervilhar de substância que cheiram a borboletas. Ela é plena quando amanhece e por isso o seu dia se recusa a partir, mesmo que a noite lhe chame pra jogar colares no horizonte.
Onipresente quando passeia no longe das distâncias à nossa volta, a mulher permanece nas horas, escovando as coisas com seu zelo; e a gente inventa uma ausência que não cabe nela. Brinca de ir, mas se encastela em nossas fortalezas, se torna cânfora dentro dos ruídos de nossas gavetas. Porque a mulher também é isso. Um possuir daquilo que perfuma.
Uma fábula sobre o seu dia começaria assim: Era uma vez um lugar onde ninguém nunca soube quem era a mulher (ou o seu dia). Um lugar onde o tempo roubava as fêmeas dos canteiros para cerzir seu tecido esfarrapado. Só o sol ficava de cócoras para lhe ver passar (com o seu dia ungindo a sua pele e a sua pele em torno do seu dia). E foi nesse lugar de tantas Rússias que o Dia Internacional da Mulher acendeu o estopim de todas elas - contra o czar e as guerras; pelo suor e a juventude das ideias alcançadas.
Foi-se a Revolução produzida nessa fábula, mas mulher quedou no espaço para sempre, aguando os seus lençóis freáticos no mundo.
Não é preciso ir tão longe, no reino das imagens, para louvar a mulher no seu dia – um ser singelo que já traz em si mesma a grandeza de sua profundidade. A história já está encharcada de seus rouxinóis; com boa parte dela construída em seu tear e no trançado de suas fibras.
De pêndulo do clã até os caminhos que agora trilha a mulher moderna ela se permite ser um tudo, se adequa e se destaca. A mulher deusa, a mulher mãe, a mulher que produz e acalanta; ela não cansa de ser todas em seu matriarcado contemporâneo. Sua presença borbulha a força oculta nas conquistas.
Vivemos porque a mulher existe e existimos para vivê-la. Assim gostamos de pensar que isso nos torna a vida mais branda. O que seria de nós sem a mulher e sua pele doce, sem os seus scarpins e tailleurs bem cortados; sem sua voz suave e seu comando de aquarelas?
Não. A mulher – que com certeza é merecedora de seu dia - não carece de imagens para cantá-la, para fazê-la compreendida, quando ela mesma pode dar-se ao luxo de ser o seu melhor poema.
Sendo uma só, não lhe resta alternativas exceto aquela de ser muitas.
A mulher cleópatra tudo que toca. Leiladiniz os seus sonhos até se lambuzar de estrelas. Vive multidões de Anitas e apascenta Joanas (enquanto planta angélicas nos arcos).
Maria da Penha, Irmã Dulce; Indira, grande Coralina! – a mulher vira Chica da Silva quando quer beauvoair. Mãe Estela de Oxóssi, mãe de seus Gantois, todas elas a mulher vira quando mariaquitéria para Yoani Sánchez viajar. Ó, virgem Maria! Ó, Madre Tereza Néri de Calcutá! Com quantas Carmens Mirandas a mulher faz o seu olhar?
E, sendo mulher a mulher, também bethânia tudo à sua volta, pois, quando nasceu, um fio d’água despencou de seus cabelos. E Oxum bebeu e pronto!
Texto produzido, sob encomenda para a TV Câmara e transformado em vídeo institucional da Câmara Municipal de Salvador, em homenagem ao Dia Internacional da Mulher 2013.
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