segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

SOLIDÃO


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Jornal do BrasilMaria Clara Lucchetti Bingemer

A solidão entendida como ausência de relação, de companhia, de interlocução, pode ser algo extremamente doloroso.  Seu sinônimo é o isolamento. Há o risco de levar à depressão e até mesmo ao suicídio. Assim começava uma música de Vinicius de Moraes, “Um homem chamado Alfredo”.  “O meu vizinho do lado se matou de solidão...”

A solidão é o mal maior da nossa sociedade.  Ela pode acontecer em um velho quarto onde, desesperado se abre o bujão de gás.  Ou também pode manifestar-se em meio às multidões que passam e não veem, não escutam, não se dão conta de que ali está alguém com sentimentos, desejos, em suma, um semelhante, uma pessoa. 


Os filhos ajudam?  Alguns provavelmente.  Mas também sem exagerar.  Senão, como vão levar as crianças à Disney, passear ou esquiar na Europa, beber whisky, tomar vinho e ir a restaurantes melhores?  E assim o final da vida de muitos idosos é marcado pela presença do Alzheimer, pelo asilo, ou pela solidão da casa com a presença de um cuidador nem sempre paciente ou experiente.  A solidão se aprofunda com a diminuição das energias, o desaparecimento dos círculos mais próximos de conhecidos ou amigos.  Entre nós há ainda o agravante de que a violência e a insegurança impedem que a vizinhança seja mais cultivada. Os vizinhos cuidam cada um de sua vida, sua família, suas coisas.  
Alguns solitários se apegam a animais.  Alfredo tinha um papagaio e um gato de estimação. Quando morre o companheiro de bico ou quatro patas, a dor é equivalente à perda de um parente.  E a solidão se aprofunda. Idoso provavelmente, mas em todo caso isolado de qualquer círculo significativo de relacionamento, o solitário não tem com quem falar, partilhar experiências, dividir a vida.  E se sente descartado por uma sociedade que não previu um lugar para ele, por uma família que progressivamente o abandona, por uma vida em meio a pessoas que passam e “mal o adivinham’...

Trechos do Artigo Solidão
*  professora do Departamento de Teologia da PUC-Rio e decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio. A teóloga é autora Testemunho: profecia, política e sabedoria, Editora PUC-Rio e Reflexão Editorial.

Fonte:http://www.jb.com.br
Colaboração: Eunice Costa

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