Você certamente já se arrepiou vendo filmes de terror. E gritou dando piruetas na montanha-russa. Estranho: você estava aterrorizado, mas adorou cada segundo. Isso acontece porque em situações normais, como no cinema ou no parque, a parte avançada do cérebro permanece no comando. Você se diverte porque mantém o controle. O seu instinto de medo é ativado, mas a consciência sabe que não se trata de um perigo real. Então acontece uma descarga de adrenalina acompanhada de dopamina - neurotransmissor associado ao prazer. E você sente aquele gostoso friozinho na barriga.
Você certamente já se arrepiou vendo filmes de terror. E gritou dando piruetas na montanha-russa. Estranho: você estava aterrorizado, mas adorou cada segundo. Isso acontece porque em situações normais, como no cinema ou no parque, a parte avançada do cérebro permanece no comando. Você se diverte porque mantém o controle. O seu instinto de medo é ativado, mas a consciência sabe que não se trata de um perigo real. Então acontece uma descarga de adrenalina acompanhada de dopamina - neurotransmissor associado ao prazer. E você sente aquele gostoso friozinho na barriga.
Mas, em situações de perigo real, como um assalto, isso não acontece. A amígdala passa por cima de todo o resto e impõe um temor incontrolável. Quando alguém desenvolve medo crônico, fobias ou transtorno de estresse pós-traumático, situações cada vez mais comuns no mundo moderno, a amígdala fica disparando o tempo inteiro. "Por isso, a pessoa apresenta grande ansiedade no dia a dia", explica o neurocientista Raül Andero, da Universidade Emory. Já estão sendo criados medicamentos que podem aliviar ou suprimir o medo (mais sobre isso daqui a pouco), mas, na maioria dos casos, a principal solução é terapia. Não só a terapia feita em consultório. Há coisas que você mesmo pode fazer.
A principal delas se chama terapia cognitivo-comportamental (TCC). Ela nos ensina a mudar os pensamentos ruins que ficam estimulando a amígdala e gerando ansiedade. "A forma como pensamos influencia a maneira como sentimos. Portanto, mudar o modo como pensamos pode mudar como nos sentimos", resume o psiquiatra Aaron T. Beck, pai da TCC, no livro The Anxiety and Worry Workbook ("O Manual da Ansiedade e da Preocupação", inédito no Brasil). Se antes da entrevista de emprego você pensa "Não tenho ideia do que dizer; eles acharão que sou um idiota", vai se sentir tenso e ansioso. Mas se em vez disso você pensar "Estou bem preparado para a entrevista e vou causar uma boa impressão", ficará mais calmo e confiante. Pode parecer banal, mas funciona. Tem efeitos neurologicamente comprovados.
A exposição gradual da pessoa ao objeto ameaçador também ajuda a superá-lo. A neurologista Katherina Hauner, da Universidade Northwestern, utilizou essa técnica - que se chama dessensibilização - para tratar fobia de aranhas. Ela monitorou o cérebro de pessoas que tinham muito medo e não conseguiam nem olhar para os aracnídeos. Esses voluntários foram sendo expostos às aranhas, aos pouquinhos, sem ultrapassar o limite de cada um. Ao fim do processo, a maioria conseguiu se aproximar e até tocar nas aranhas. Seus cérebros tinham mudado fisicamente. "A terapia mudou a rede de neurônios ligados ao medo, e reorganizou a resposta do cérebro ao objeto ou à situação temida", concluiu Katherina.
Em seu novo estudo, publicado no final de 2013, ela foi além: mostrou, pela primeira vez, que é possível apagar medos enquanto uma pessoa dorme. Numa experiência meio cruel, que lembra aquelas feitas em ratos, a cientista condicionou um grupo de voluntários humanos a ter medo de certo rosto. Quando eles viam esse rosto, eram expostos a um cheiro específico e levavam um choque elétrico. Em pouco tempo, aconteceu o óbvio: as pessoas associaram o choque aos dois sinais (o rosto e o cheiro), e passaram a ter medo deles. Aí, Hauner resolveu tentar algo revolucionário: apagar o medo. Deixou que os participantes dormissem, e os expôs àquele mesmo cheiro, para que eles evocassem a memória ruim. A diferença é que, agora, não aplicou choques. Deu certo. As pessoas deixaram de ter medo do cheiro - apenas o medo do rosto persistiu.
Colaboração: Carmen Costa
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