Uma das mais perigosas síndromes da atualidade passa despercebida dos grandes fóruns de psiquiatria. Eu a denomino “Síndrome do Prefácio” e seus sintomas são bem conhecidos.
A vítima desse mal acredita que sua felicidade só será alcançada daqui a algum tempo: Quando crescer, quando fizer 18 anos ou 21. Quando passar no vestibular, quando se formar, quando arrumar um emprego, quando sair de casa, quando casar, quando se divorciar, quando mudar de emprego, quando for promovido, quando comprar a casa nova ou o carro novo, quando se mudar, quando se aposentar… Quando, quando e quando. Nunca o aqui ou o agora!
A síndrome do prefácio preconiza que sua vida ainda está para começar. Tudo o que você viveu e vive até agora é apenas o prefácio da grande saga que ainda irá escrever. Assim posterga suas mais importantes decisões, menospreza seus melhores feitos, ignora seus melhores amigos e subestima suas relações afetivas mais significativas.
Acreditando que o melhor ainda está ainda por vir!
Essa síndrome paralisa a capacidade de aproveitar o momento e degustar os aspectos mais proeminentes do aqui e do agora. Faz com que cada um viva o amargor diário da frustração de intuir que do outro lado a grama é sempre mais verde!
Não tenho nada contra a essa mola propulsora que nos faz querer sempre mais.
O que me perturba na ambição em seu papel da pimenta que estraga o prato da vida, tornando-a intragável — Não é a ambição em si — mas seu excesso que amortece o sabor das pitadas necessárias para deixar a vida mais viva.
Mas é essa fome que nunca cessa; é esse vazio que nunca se preenche. E, no entanto, a vida é no fundo a própria jornada e não o almejado ponto de chegada.
Que tal reduzir a velocidade na sua ida à praia e aproveitar o passeio? Porque o melhor instante é o agora e o melhor lugar é o aqui. Só dessa forma conseguiremos construir uma sucessão temporal de “aquis e agoras” num crescendo em qualidade e intensidade que transforme a aventura de viver numa experiência memorável.
Colaboração: Luiza Drubi
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