Uma questão nacional.
Apareceu lá em casa o cachorro mais feio do mundo.
Parecia um novelo esfiapado. Um pacote de pulgas magricelo, trêmulo e estabanado. Porém, algo naquele bicho me comoveu.
Talvez seus olhos úmidos, as vastas orelhas caídas ou a forma suplicante com a qual me olhava.
Fora muito maltratado. Fiquei profundamente penalizado.
Ele era apenas um filhote e já descobrira toda a crueldade do mundo. Não tive coragem de espantá-lo.
O coitadinho mal parava em pé de tão fraco. Talvez fosse pela fome. Talvez fosse pela doença. Talvez fosse por ambos.
Meu vizinho, o “seu” Roby, que se dizia estrangeiro, adorava fazer piadas políticas.
Logo, transformou meu cãozinho em seu alvo predileto.
— E então, como vai o Brasil? Está se recuperando? — Perguntou ele, quando me avistou brincando com o cãozinho.
Seu quintal estava abarrotado de parentes. Todos esticaram seus pescoços por cima da cerca.
— Como disse? — perguntei, enquanto jogava uma bolinha para meu amigo canino.
— Esse seu vira-lata, o nome dele é Brasil, não é? – Insistiu o malvado enquanto mastigava um pedaço de pão com linguiça.
Para a nossa sorte — minha e de Brasil — conquistamos mais aliados em nossa campanha de revitalização nacional.
Em poucos meses Brasil estava belo, forte e impávido. Um verdadeiro colosso.
A magreza fora substituída por uma musculatura robusta e ágil.
O pelo acastanhado crescera vistoso e brilhante e muitos paravam no portão da minha casa para elogiar aquela transformação.
Além da beleza, Brasil demonstrava ser muito esperto e aprendia com rapidez muitos truques.
Seu Roby parou de fazer piadas. Num dia me abordou na rua e perguntou qual fora o segredo para transformar um bicho tão magro e feio num animal tão especial como aquele.
Eu respondi na lata:
— Bastou o Brasil encontrar alguém que o amasse de verdade.
Mustafá Ali Kanso
Colaboração: Luiza Drubi
Estamos extasiados com a capacidade do amor. A dedicação de uma pessoa a um animal sofrido tem que ser reconhecido como "grandeza grande".
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