O artigo a seguir é de Carlos Chagas:
Faltando três dias para a inauguração oficial do estádio do
Maracanã, completamente remodelado, um promotor público pede sua interdição e a
suspensão da partida anunciada entre as seleções do Brasil e da
Inglaterra. Uma juíza concede a liminar, na tarde do feriado religioso de
ontem, para valer no domingo. Convenhamos, se era para aparecer, melhor teriam
feito a juíza e o promotor se pendurassem melancias no pescoço. Não se
preocuparam com a repercussão de suas iniciativas no universo do coletivo
nacional. Certamente ignoraram os debates do processo do mensalão, onde
prevaleceu a teoria do domínio do fato. Claro que a CBF, como sempre,
incorreu em monumentais irregularidades. O governo do Rio de Janeiro, também.
Acrescente-se outras entidades. Mas imaginar-se acima dos valores da sociedade,
dando de ombros para o risco de frustrar milhares de espectadores na antiga
capital, milhões de telespectadores no país inteiro, para não falar
no planeta, foi demonstração de soberba, arrogância e megalomania.
Dois cidadãos, por maior cultura jurídica de que disponham, não podem desafiar
a alma nacional, da qual o futebol faz parte. Seria o mesmo de que por
conta do aumento de crimes durante o Carnaval, proibissem o desfile das Escolas
de Samba, através de uma liminar. Ou porque existem padres pedófilos,
impedir as crianças de ir à missa.
O
Ministério Público e o Judiciário teriam outras formas para punir a desídia das
autoridades esportivas. Preventivamente, estabelecendo multas e até
prisão para os responsáveis pela entrega incompleta do estádio. Com muito mais
veemência e inflexibilidade caso se verificassem, durante a partida,
confrontos causadores de acidentes maiores e menores. Suspender o
espetáculo, porém, cujos riscos se debitariam a seus organizadores, significou
investir contra o sentimento popular.
Felizmente,
liminares concedidas na primeira instância do judiciário costumam ser revistas
e cassadas nos tribunais. Pode ser que hoje, sexta-feira, tudo não tenha
passado de um pesadelo, e que a juíza e o promotor tenham retornado ao
anonimato de onde jamais deveriam ter saído, por decisão de algum
desembargador. Claro que com a severa responsabilização das autoridades
que deixaram de cumprir suas obrigações. Até dos empreiteiros que não
retiraram o entulho das obras conforme o contratado.
Nesse
episódio de horror ainda inconcluso, a ironia ficou com a equipe inglesa,
já desembarcada no Brasil: “Se não tiver estádio, jogaremos na praia de
Copacabana”…
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