sábado, 1 de junho de 2013

SOBERBA, PRESUNÇÃO E IGNORÂNCIA

O artigo a seguir é de Carlos Chagas:

Faltando três dias para a inauguração oficial do estádio do Maracanã, completamente remodelado, um promotor público pede sua interdição e a suspensão da partida  anunciada entre as seleções do Brasil e da Inglaterra. Uma juíza concede a liminar, na tarde do feriado religioso de ontem, para valer no domingo. Convenhamos, se era para aparecer, melhor teriam feito a juíza e o promotor se pendurassem melancias no pescoço. Não se preocuparam com a repercussão  de suas iniciativas no universo do coletivo nacional. Certamente ignoraram os debates do processo do mensalão, onde prevaleceu a teoria do domínio do fato.  Claro que a CBF, como sempre, incorreu em monumentais irregularidades. O governo do Rio de Janeiro, também. Acrescente-se outras entidades. Mas imaginar-se acima dos valores da sociedade, dando de ombros para o risco de frustrar milhares de espectadores na antiga capital,   milhões de telespectadores no país inteiro, para não falar no planeta, foi demonstração de  soberba, arrogância e megalomania.  Dois cidadãos, por maior cultura jurídica de que disponham, não podem desafiar a alma nacional, da qual o futebol faz parte.  Seria o mesmo de que por conta do aumento de crimes durante o Carnaval, proibissem o desfile das Escolas de Samba,   através de uma liminar. Ou porque existem padres pedófilos, impedir as crianças de ir à missa.
O Ministério Público e o Judiciário teriam outras formas para punir a desídia das autoridades esportivas.  Preventivamente, estabelecendo multas e até prisão para os responsáveis pela entrega incompleta do estádio. Com muito mais veemência e inflexibilidade caso se verificassem, durante a partida,  confrontos causadores de acidentes maiores e menores.   Suspender o espetáculo, porém, cujos riscos se debitariam a seus organizadores, significou investir contra o sentimento popular.
 Felizmente, liminares concedidas na primeira instância do judiciário costumam ser revistas e cassadas nos tribunais. Pode ser que hoje, sexta-feira, tudo não tenha passado de um pesadelo, e que a juíza e o promotor tenham retornado ao anonimato de onde jamais deveriam ter saído, por decisão de algum desembargador.   Claro que com a severa responsabilização das autoridades que deixaram de cumprir suas  obrigações. Até dos empreiteiros que não retiraram o entulho das obras conforme o contratado.
Nesse episódio de horror ainda inconcluso, a ironia ficou com a equipe inglesa, já desembarcada no Brasil: “Se não tiver estádio, jogaremos na praia de Copacabana”…


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- Kant "Quem não sabe o que busca,  não identifica o que acha." Colaboração: Itazir  de  Freitas