Ninguém acredita
Convenhamos que agora pega até bem, especialmente entre os jovens que frequentam a fundação, ter um mentor tão prafrentex. FHC responde a eles que nunca fumou maconha, “mas não adianta, ninguém acredita”. Ele acaba concordando que, de fato, expõe com muito mais liberdade suas ideias hoje, do que há 30 anos: “Não tenha dúvida”.
Já que é assim, a reportagem se sente tentada a repercutir algumas histórias clássicas sobre ele. É pão-duro? “Sim, sou.” Mas do tipo pechincheiro? “Não sou uma pessoa de consumo, de gastos.” Esse seu terno é de marca? “Ganhei o tecido, e mandei fazer.” Algum bem de consumo durável que o seduza: canetas, óculos, relógios, automóveis? “Não, não. Carro, eu não sei nem qual a marca. Frequentemente, entro no carro errado, alguém me avisa.”
Sua vaidade é intelectual. O presidente gosta de ir ao cinema, ao teatro, de ler livros. Quando sai, é tratado como astro. Dá autógrafos, inclusive. A constante massagem no ego provavelmente ajuda a neutralizar a eventual decadência física. “Nada resolve essa parte.” De qualquer maneira, é mais fácil para um senhor de 81 anos esquecer uma dorzinha na articulação quando ele tem a agenda cheia. Na véspera da entrevista, FHC almoçou com o escritor peruano Mario Vargas Llosa, depois falou para mil jovens sobre democracia. À noite, jantou com amigos. No dia seguinte, faria uma palestra em Belo Horizonte. Nesses eventos, ele gosta de falar, “não de ler”, para quem o assiste. Mas garante que não sente sono quando um palestrante lê, como o fez, por exemplo, Celso Lafer.
Salto na biografia
O celular dele toca, é a namorada, Patrícia Kundrát, 35 anos, ex-funcionária da fundação. Eles vão se encontrar depois da entrevista. O presidente diz a ela que liga quando entrar no carro. O tucano não sabe precisar há quanto tempo namora Patrícia. “Ah, não sei. Uns dois, três anos.” Gosta de namorar? “Com moderação”, ri. Ele diz que nunca ouviu falar em um grupo de viúvas moradoras de Higienópolis, bairro onde vive em São Paulo, que são apaixonadas por ele. “Só em Higienópolis?”, ri de novo.
Sua fama de mulherengo pareceu se confirmar quando FHC assumiu um filho que, descobriu-se depois, não era dele. É razoável imaginar que o presidente preferiu ser politicamente correto e reconhecer a paternidade do garoto antes mesmo de saber se era o pai. Mas ele explica que não foi bem assim: “Eu não sabia anteriormente e decidi não ‘assumir a paternidade’ – posto que o DNA mostra que não se trata de filho meu – mas, sim, manter laços afetivos e as custas de sua educação. Isso eu faço não porque seja ‘politicamente correto’, mas porque é humana e sentimentalmente o que sinto que devo fazer.”
Um salto e tanto na biografia do intelectual público. Duas vezes presidente da República, ministro das Relações Exteriores, da Fazenda e senador, Fernando Henrique Cardoso revela-se agora um pai adotivo de tendências humanitárias e sentimentais. Além de tudo, tocante.
por Paulo Sampaio, na Glamourama
Fonte: UOL
Colaboração:Eunice Costa
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