Revisitar o mais emblemático evento da "era" hippie é recordar a chamada "geração flower power", que,em meio às grandes ondas contestatórias da década de 60, foi mais tarde frequentemante reduzida ao esteriótipo de um bando de malucos cujo sonho acabou em 1970, por um decreto de John Lennon. Mas o movimento hippie não esgotou tão cedo a cadeia de seus efeitos, legando à sociedade uma estética, símbolos e comportamentos adotados até hoje,
Em seus momentos mais gloriosos, os hippies representaram uma juventude que, talvez pela primeira vez na história, percebeu a si mesma como força coletiva e capaz de mudar o mundo.
Os jovens reunidos em massa em São Francisco para o Verão do Amor em 1967, no evento que levou à cidade cerca de 100 mil jovens enfeitados com flores nos cabelos, propunham, em geral, uma vida simples e comunitária, de referência rural. Recusavam todas as formas de violência, a tecnocracia, o consumismo, os produtos industriais em série, fugiam ao condicionamento da televisão, pregavam o respeito à natureza e aos direitos das minorias.
Embora muitos possam ter recebido até com alívio o anuncio de que "aquele sonho" acabou em1970, um movimento tão visceral não morre tão facilmente.
Se no correr dos últimos 40 anos os pais passaram a aceitar que seus rebentos dormissem com os namorados ou namoradas no quarto ao lado; se o modo de vestir de pessoas de todas as idades se descontraiu; se os cabelos de homense mulheres ganharam as formas, as cores e os tamanhos que cada um bem entendeu; se o presidente dos Estados Unidos hoje é um negro; se três milhões de gays, lésbicas e simpatizantes podem desfilar seu orgulho na parada anual paulistana e a preservação ambiental tornou-se uma bandeira mundial, foi em grande parte como consequência do inconformismo "daqueles doidões" que deixaram para trás escola e família, abrindo mão da busca do sucesso material do mundo burguês.
Apesar dessa inegável influência, os hippies, no Brasil,foram tratados com sarcasmo, apontados como debiloides inconsequentes, cujo maior legado teria sido a difusão das drogas entre as gerações seguintes.
Claro que de tanto brincar com o fogo, muita gente gastou o corpo, pirou ou perdeu a vida nessa viagem. Mas também é possível considerar o movimento mais generosamente , a exemplo de Ang Lee num comentário sobre seu novo filme, como um " último momento de inocência" ou como " um ímpeto para a vida e a alegria, num último grito de liberdade".
Entretanto, sem um programa teórico e organização política que lhes permitisse realmente criticar as bases concretas da máquina capitalista, cedo se dispersaram como movimento, assimilando-se às estruturas burguesas ou caindo numa decadência desoladora.
Autor desconhecido
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