segunda-feira, 18 de junho de 2012

UMA QUESTÃO DE RESPEITO



Com muita honra, sou professora. Tenho um lastro de mais de 50 anos de magistério e uma experiência de atuar com alunos nos mais diversos níveis de ensino, do maternal à Universidade. Sempre me orgulhei de minha profissão, porque foi uma escolha consciente. Regar e adubar a plantinha que chega em nossas mãos, vê-la crescer, florir e dar bons frutos é de uma satisfação inexplicável. Esta é a missão do professor: plantar, adubar, cuidar das sementes que estão sob sua responsabilidade e entregá-la, viçosa, para o próximo que continuará seu cultivo. 

É um trabalho de formiguinhas, passando, umas para as outras, o alimento saudável que constrói e fortifica uma nação. Mas, para isto, é necessário, tanto do estado quanto das famílias, dos professores, dos alunos, o cultivo de um valor: o respeito. Lembro-me, com saudade, a emoção que senti no dia em que cheguei no Japão como professora e, porque professora, fui tratada com reverência. Aliás, conta-se que no Japão o professor era o único profissional que não precisava curvar-se diante do imperador, sem precisar cumprir o ritual de ajoelhar-se diante de sua autoridade. Afinal, até um imperador passa pelas mãos de professores que o ajudam a tornar-se mais sábio, mais forte, mais humano.
 

O respeito por tradições e por autoridades é considerado como um dos cinco valores morais básicos para se construir uma sociedade democrática e igualitária. No entanto, o respeito não significa tolerância. A excessiva tolerância retira de nosso olhar a capacidade de perceber certas atitudes negativas como algo que pode minar o solo em que estamos adubando o presente e o futuro: a educação de nossas crianças. Aquele que acha que o cultivo do respeito está ultrapassado necessita de uma imediata revisão na sua conduta.
 

O valor do respeito pelo outro impulsiona o florescimento da dignidade da democracia, dos direitos e deveres em todos os relacionamentos: na família, na escola, no trabalho, no nosso círculo de amizade, na saúde, na educação, na segurança. Penso que os valores de nossa sociedade estão sendo extintos por falta de ensinar às crianças, o valor do respeito, ainda na tenra idade. E isto, principalmente, se faz em casa, na família, exigindo respeito dos filhos e respeitando-os. Respeitar os filhos, no entanto, não significa deixá-los fazer o que quiserem. É, sim, ensinar-lhes o respeito que eles têm de ter a si próprios e ao outro. Há um claro limite entre uma pessoa e outra, pois ambas têm desejos diferentes e não se pode sair por ai fazendo tudo o que se quer, pois a recíproca pode ser verdadeira e o resultado será o caos, a balbúrdia, a desordem.
 

O respeito a si próprio é, depois da religião, o principal freio de todos os vícios. Karl Marx já dizia que “O trabalhador tem mais necessidade de respeito que de pão”. Daí, a necessidade de respeito aos nossos professores que se empenham no trabalho de melhorar a sociedade, tornando-a mais consciente de sua importância na construção do país, por isso, mais forte. Os professores estão na escola para ajudar na educação dos filhos daqueles que não lhes têm dado valor. Quando os que mandam perdem a dignidade, os que obedecem perdem o respeito. E essa triste realidade tem acontecido em nossas escolas.
 

Valorizemos nossos mestres para que nossa sociedade seja respeitada e valorizada. São eles, quando respeitados, um dos responsáveis pela grandeza de uma nação.
A professora Marlene Salgado de Oliveira é mestre em Educação pela UFF, doutorada em Educação pela UNED (Espanha) e membro de diversas organizações nacionais e internacionais.

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- Kant "Quem não sabe o que busca,  não identifica o que acha." Colaboração: Itazir  de  Freitas