quinta-feira, 22 de novembro de 2012

MOMENTO DA POESIA


SERPENTE SERTANEJA
 
Riacho correndo
Serpente se arrastando pelo chão 
Riacho era rio
Encharcando o ventre do sertão

Chinelo de couro
Pés rachados
Arrastando a solidão
Chocalho de bode
É sino anunciando
Vazio no coração
Cabrito pulando
Levantando poeira do chão

Caroço de seriguela
Umbu do mato
Engasgado na guela
No seco
Sem água
Sem ar
Sem palma
Sem nada
Nadica de nada
Prá saliva descer

Só sol
Graveto
Secura na língua
e na alma também

Corre o riacho
Serpente pessonhenta
Lama que escorre como baba
A desaguar na curva além
Não mata a sede
Mas tortura e acorrenta
Prá gente não correr

Aqui não tem xamego
Ninguém sabe o que é amor
Se morre quando o sol nasce
Se vive, quando ele se for
No escuro se esconde a fome
A tristeza do olhar
Não se pensa se não vê
a feiura do lugar

Não tem campo
Não tem flor
Não tem mata
Nem passarinho a cantar
Se canta é só de dó
um solitário curió 

Não há lágrima prá enxugar
Só se chora se a chuva molhar
Não tem bicho
Não tem folha
Só o ar prá respirar
 
Não tem ano
Não tem mês nem dia
Prá não se saber a hora
da tristeza se achegar
 
Riacho agora é serpente
Se enroscando pelo chão
Fugindo da morte certa
Pois tudo é caça da morte
no seio do meu sertão
 
Luiza 

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- Kant "Quem não sabe o que busca,  não identifica o que acha." Colaboração: Itazir  de  Freitas